quarta-feira, 25 de maio de 2011

Noção de pessoa segundo a cultura afro-brasileira

Erick Wolff8
São Paulo 2011


Primeiro passo seria definir noção de pessoa segundo a cultura Afro-brasileira, para quem não sabe do que eu estou falando, simplesmente a noção de pessoa poderia ser definida por três perguntas;

De onde eu vim?
Quem eu sou?
Para onde eu vou?

Ao ler as matérias publicadas por Luiz L. Marins, na revista on line Olorun (www.olorun.com.br), ao qual eu sou editor, eu começo a perceber quais são as três respostas, ao pensar quem eu sou de onde eu vim e para onde eu vou. Baseado na minha cultura eu tento entender a base da minha estrutura religiosa, nos princípios da minha própria religião, para que eu possa definir corretamente o que cultuo e o que eu pretendo trabalhar espiritualmente.

Na simplicidade do nosso culto, o primeiro passo é darmos um Ìborí, claro que quando cito o Ìbo eu me refiro ao culto Yorúbà, o que não quer dizer que as demais culturas (Bantu, Fon e Jeje) são obrigadas a seguir este ritual, sendo que não faz parte da sua liturgia e ritualística. Porem baseado na minha cultura o primeiro passo seria cuidar da Orí, mas o que seria esta Orí, que para os
Yorúbà significa destino ou caminho, como poderia caminhar para frente sem definir qual estrada pegaria? Este mesmo Ìbo pode e deve ser renovado sempre que for solicitado, sem que seja preciso renovar a feitura do Òrìsà, que por sua vez posso considerar que os dois sejam distintos e separados, sendo que os dois partilham da cabeça do iniciado.

A grande dificuldade do Ocidental é entender que esta Orí ao qual cultuamos no Ìbo, não é uma Orí (cabeça) física, ela foi determinada ser chamada assim pelos
Yorúbà, quem sabe para exprimir nosso intelecto ou caminhos aos quais deveremos seguir. Segundo a cultura Yorúbà, nós deveremos ir até a casa de Àjàlá (o oleiro das Orí) e pegar uma Orí, depois seguir até Olorun que ouvirá nossos votos e comprometimentos para a nova vida, que por sua vez teremos apenas Òrùnmílá como testemunha. Fico imaginando há uns 20 anos atrás a população religiosa recebendo está informação, de que nós pegamos uma Orí e vamos à frente de Olorun, isso deve ter gerado uma confusão tremenda e um novo conceito de mulas sem cabeça, onde andaríamos no Òrun sem cabeça (Quem sabe seja por isso que deu-se o inicio à confusão entre o Bara do corpo, afinal os sacerdotes não devem ter entendido que a Orí não era física (espiritual), e deram um elemento para que fosse buscar esta Orí, o que não justifica assim a existência do Bara do corpo, citado pelo livro "Os Nago e a morte", mesmo porque se este Bara do corpo fosse responsável por animar o corpo do ser vivo, este estaria presente na concepção Yorúbà, o que não existe dados algum que ateste  além do material citado pela autora do livro.)... Justamente isso que eu imagino que aconteceu quando foi anunciado pela primeira vez como funcionava o sistema metafisico Yorúbà, causando assim mais confusão do que elucidou a Noção de Pessoa do povo do santo daquela época.
Então o que fazer com toda esta informação agora?
Onde guardar a Orí e o que podermos fazer com ela?

A meu ver houve varias readaptações no conceito e ritual do Ìbo em diversas vertentes religiosas do segmento Yoùbá da cultura Afro-brasileira, visto que o Ìbo era nada mais do que uma Orí e os sacerdotes entenderam que esta cabeça seria a própria cabeça do iniciado e não reavaliaram a possibilidade de estarem falando de um destino, afinal pouco se sabiam sobre Odù e destinos, pois o culto no Brasil ainda era pouco difundido, e a Umbanda e o Batuque Afrosul não precisaram do sistema de Odù para se instalar e sobreviveram até os dias atuais.  Com exceção do Candomblé que usa o jogo de comunicação com as divindades pelo sistema de Ifá, este teve a oportunidade de estudar e remodelar seus conceitos para um Ìbo sob os conceitos
Yorúbà. Esta oportunidade de rever os conceitos e ritualísticas, fez com que eles mexessem no seu  Ìborí, criando assim um ritual reafricanizado, e o Ìborí de Òsàálá ou Yemonja deixou de existir, afinal entenderam que a Orí não deveria comer com Òrìsà e vice-versa e muito menos era de Òsàálá ou Yemonja.

Porem o Ìbo Afrosul vincula o Òrìsà ao Orí, em algum lugar do passado os sacerdotes decidiram vincular o Ìbo ao Òrìsà da pessoa, porem observe um pequeno adendo;

O Ìbo pode ser refeito todo ano ou quando assim a Orí desejar e comer o que ele desejar, sem  que o Elégùn seja iniciado.

O Òrìsà pode comer quando desejar uma ou mais vezes por ano, tudo irá depender da vontade dele, porem a iniciação dele será apenas uma vez, para esta iniciação o Elégùn  deverá ter  Ìbo, sendo assim ele exigirá comer apenas uma vez na Orí, não será necessário o Elégùn deitar todas as vezes que ele for dar de comer ao Òrìsà, diferente da Orí que ele terá que deitar todas as vezes que a Orí dele for comer.

E segundo a cultura Afrosul, o Ìbo contém os elementos básicos, que são búzios, moeda e um recipiente, nada que ateste contra o conceito do Ìbo
Yorúbà, apesar de seguir uma quartinha e fios, não é um erro tão grave que não possa ser reavaliado, sendo que a quartinha está ligada a ancestralidade, que no caso do Ìbonão deveria ser vinculado a ancestral algum mesmo que divinizado, o Ìbo deveria ser ligado apenas à Orí, com cantigas para Orí e comidas para Orí.

Desta forma se um Ìboé para a Orí, nada mais lógico do que entender que  quem deveria ocupar a cabeça ou seja manter a consciência  do Elégùn na hora do ritual, seria a consciência do próprio iniciado, sem o Òrìsà responder ou a presença de divindade alguma, ou seja, nada além da própria Orí que por sua vez a Orí se transforma numa divindade. Esta Orí será cultuada aqui na terra, dentro de um templo, logo é fácil definir que existe uma ligação direta com o Òrun, mas então qual a finalidade deste Ìbo?

Se o meu
Ìbo está ligado com o Òrun, é o meu destino e caminho, nada mais correto do que eu pedir a ele tudo que desejo, lembrando que ao dar o bo eu peço prosperidade, saúde, fartura, trabalho, dinheiro e etc... Neste momento eu estou renovando meus votos e pedindo uma segunda chance, ou melhor, suplicando um novo caminho, novas oportunidades, que serão atendidas se a minha Orí assim desejar. Desta forma cabe a minha Orí julgar se tenho ou não oportunidade de receber o que desejo.

Mas se é a minha Orí que define o que eu devo ou não receber porque então cultuamos Òrìsà? Simplesmente porque os Òrìsà devem ser sento para servir a Orí e não o contrário conforme é costume notar no conceito global.



Se eu sei de onde eu vim, se eu percebo que estou seguindo meu caminho corretamente eu perceberei quem eu sou e para onde eu irei, seria interessante lerem o material ao qual citei no inicio deste artigo, onde poderão estudar  e entender melhor o conceito sobre Noção de Pessoa.

Ilé-orí


(Os Yorúbà consideram que o melhor lugar para se guardar um Ìbo, seria na Orí Inú, quer dizer a cabeça interna do iniciado, porem convencionaram que poderia ser usado um recipiente para guardar itens que simbolizem a Orí)

Orí inú


Erick Wolff8 - Bàbálòrìsà de Òsàálá, dirigente da Ilé-ọba Óbokún Àṣẹ Nàgó'Kọbi, fundada em 05 de junho de 1990.

domingo, 27 de março de 2011

A Umbanda virtual.

Por Erick Wolff
(Òrìṣà Èṣù)
A comunicação virtual fornecendo conteúdo para a comunidade, isso é confiável?
Infelizmente eu tenho as minhas dúvidas, o que deveria ser para ajudar e levar conhecimento a todos, chega a confundir e às vezes até mesmo ludibriar o estudante que assimila informações erradas, que trará um conhecimento errado e ou graves consequências espirituais.

Observe os temas de um Curso:

  • -Os Mistérios de Exu e suas Lendas
  • -Exu Natural, Exu Guardião e Exu de trabalho
  • -Exu na Umbanda e seus costumes
  • -As Guias de Exu
  • -Como usar, guardar e cuidar da Guia do seu Exu
  • -Identificando o Orixá regente através do nome do Exu
  • -Qual a relação do Exu com o numero 7
  • -Qual o significado dos elementos de uma oferenda
  • -Como fazer corretamente a oferenda para o Exu
  • -Como fazer a firmeza de Exu na própria residência
  • Entre outros...

(Entidade Exu da Umbanda)

Ao contatar a organização, fui informado que o curso presta informações apenas das entidades da Umbanda, porem a confusão é nítida e demonstra total desconhecimento de causa e filosofia da Umbanda, confundindo conceitos e lendas dos Òrìṣà Africanos com os Orixás da Umbanda (brasileiros), mas como assim?

As divindades Africanas são diversas e sua origem energética mais diversificada ainda, porem os Okú (entidades), não são divindades, pelo que eu sei, apenas os ancestrais cultuados pela tradição africana que foram divinizados, alguns se tornaram-se  Òrìṣà, mas isso é uma história que não tem nada haver com o que estamos discutindo aqui, apesar de estar falando de divindades e ancestrais, os mesmo são distintos.

Um Okú (entidade) é cultuado pela Umbanda, segue os preceitos e fundamentos daquela religião, quando falamos de Exu logo vem duas imagens para este mesmo nome, para os Umbandistas entidades com capa, tridentes e paramentos muito semelhante a divindade Èṣù, mas sem nem uma ligação com a divindade Èṣù, que assume um grande papel no culto tradicional africano.

  • -Identificando o Orixá regente através do nome do Exu
Segundo a organização o curso, cada Exu possui uma origem energética, esta chamada de Orixá, sabendo que a Umbanda possui seus Orixás e divindades, que apesar da semelhança dos nomes e sincretismo com os africanos, energeticamente não tem nada haver com os cultuados na África. Sim porque Orixá não se mistura com Okú, apenas com Ègún, Ègúngún e Ancestrais divinizados, o que sabemos que nem um deles são cultuados na Umbanda.

  • -Os Mistérios de Exu e suas Lendas
Bara Òrìṣà Yorùbá

Eu considero que cada entidade seja única, apesar de assumir um nome ou uma linha de um famoso Exu (entidade), ele não é o mesmo, basta colocar um Marabo ao lado do outro para ver que cada um portará de uma forma e ou contará uma história de vida diferente, logo cada um é um, não existe uma forma de codificar ou formatar esta entidade, podemos chegar perto de conceitos de forma de trato ou elementos que possam carregar, mas mentiu quem disse ou está dizendo que Marabo é tudo igual (risos), tenho certeza que eles mesmos não irão concorda...

  • -Como fazer a firmeza de Exu na própria residência

Outro perigo, manter um Exu na própria residência, será que todos podem ter um Exu na residência, como saber qual é o Exu adequado, como fazer isso e dominar, sendo que a maioria dos templos sabem que manter um Exu dentro de um templo requer sérios cuidados, qual o poder e domínio que uma pessoa terá com diante desta entidade? Fiquei realmente preocupado com este tópico...

Sem falar que a organização afirmou que “Exu tem passagem para todos os mundos, esta a disposição de todos os Divinos Orixás.“, sim ela está corretíssima, porem ela está se referindo ao Òrìṣà e não a entidade, pois Okú não entra no Ọ̀run (céu espiritual) assim, ele tem seus limites e tem que respeitar, não é uma bagunça sem eira nem beira que chega qualquer um e vai entrando assim, Exu entidade com todo respeito tem o seu caminho e trabalho, que respeita e sabe muito bem trabalhar. Mas não caiam no mesmo erro de  considerar que uma entidade pode entrar assim, e  não se confundam também.

Para um iniciante é importantíssimo saber o que cultua e como cultua, por isso que fico preocupado com a realidade dos cursos On Line que mais traduzem confusão do que segurança.

O que devemos fazer, como difundir e apoiar determinados cursos?
Quem orienta estes ministradores de cursos?
Quais os parâmetros para defirnir o que deve ou não ser divulgado?



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Direito de resposta
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O jornalista, e publicitário especialista em mídia digital a 8 anos e dedica 24h por dia disso a nossa religião. Organizador do “Curso Virtual de Exu”.

Pediu apenas que publicasse esta resposta; “O Candomblé sobrevive até hoje porque não quer convencer pessoas sobre uma verdade absoluta, ao contrário da maioria das religiões
(Pierre Verger)

E assina pelo e-mail, caso queiram estrar em contato para o curso ou informações.
BARBIERI.NEGOCIOS@HOTMAIL.COM



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Resposta do editor Erick Wolff
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A liberdade e a diversidade sempre foram respeitadas, tanto neste Blog quanto em qualquer matéria publicada, por qualquer um que disponibilizamos espaço. A diferença está em quando eu publiquei esta matéria o foco foi a Umbanda, não estamos ou me suponho que eu não estou falando do Candomblé, por isso, focando a Umbanda que eu respondo chamando a atenção para certos pontos que devem ser policiados, para que o leitor possa ter acesso aos devidos conteúdos e conhecimento, afinal como um leigo vai manter um Exu dentro de casa, ou melhor, como ele irá saber qual é o Exu dele?
Mistérios da Inclusão Digital...

Grato

quarta-feira, 23 de março de 2011

Museu de Jacareí recebe exposição sobre orixás

sosni - Museu de Jacareí recebe exposição sobre orixás

Por Erick Wolff8
A mostra traz oito telas com 17 orixás. As visitas podem ser feitas de terça-feira a domingo, até o dia 20 de abril, com entrada gratuita


O Museu de Antropologia do Vale do Paraíba recebe até o dia 20 de abril a exposição A Benção dos Orixás de Terreiro. Localizado em Jacareí, a 80 km de São Paulo, o museu traz essa exposição que é composta por oito telas de 17 orixás, com 2x2 metros cada. As obras foram idealizadas pelo umbandista Sidney Lorca e pintadas pelo artista plástico Cláudio Koca.

Criou-se um mito no Brasil dizer que o povo Africano costuma não dar feições às divindades africanas, pelo simples fato de considerar que as mesmas não deveriam ser retratadas, porem não é verdade, pois eles modelam imagens no barro, madeira, forjam estatuas no ferro e costumam até pintar os deuses com rosto, segundo a sua cultura algumas divindades desceram do Ọ̀run (céu), se instalando aqui para viver como os seres humanos, seus descendes, mistura de homens e divindade foram chamados de Ẹbọra, e se tornaram ancestrais, que através dos seus grandes feitos tornaram-se Òrìṣà, um exemplo mais famoso deles é Ṣàngó.

Contudo a cultura Africana divide-se em várias etnias, numa diversidade que chega a gerar certa confusão, mesmo assim eles se entendem, contudo aqui no Brasil, formaram-se alguns mitos em volta de algumas divindades, que necessita ser quebrado, não sabemos ao certo como isso começou, mas os candomblecistas e a tradicional família afro-brasileira estão corrigindo os conceitos e fazendo um Up Grade dos Ìtan (História) da cultura.

Um exemplo claro de renovação dos Ìtan é explicar que Ọ̀sányìn um Òrìṣà conhecido pela sua sabedoria em manusear folhas medicinais, por isso conhecido como o dono das folhas, não deve ser retratado pela forma feminina, visto que ele possui um papel importante na religião afro-brasileira sendo uma divindade masculina. Uma das delas da exposição retrata Ọ̀sányìn como uma divindade feminina, não sei se foi influencia de Sidney Lorca (Umbandista) que não deve dominar a cultura Africana, reforçando o mito da duplicidade na personalidade de Ọ̀sányìn, ou se foi o artista Cláudio Koca, que decidiu mudar a forma deste Òrìṣà.  Sendo importantíssimo para a Umbanda, que segundo a liturgia desta religião, não fazem o uso do Ẹ̀jẹ̀ (sangue animal) trocando o mesmo pelo sangue vegetal, retirado da maceração de folhas de Ọ̀sányìn.

A exposição deve ser vista, afinal a cultura Afro-brasileira está recebendo espaço e devemos considerar uma vitória num país onde considera o “Estado Laico”, porem vemos uma cruz cravada nas câmaras municipais e estaduais de todo o País, obrigando à todos ficarem de baixo de um único símbolo, sem respeitar a diversidade religiosa, esta que em momento algum é lembrada.


Serviço – O Museu de Antropologia do Vale do Paraíba está localizado na Rua XV de Novembro, n.º 143 – Centro – Jacareí. As visitas podem ser feitas de terça a sexta-feira, das 9h00 às 18h00, e aos sábados e domingos, das 11h00 às 17h00, sempre com entrada gratuita. Para agendar visitas ou obter mais informações sobre a exposição, o telefone para contato é (12) 3953-3574.

TIKTOK ERICK WOLFF