quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

O BABALORISA A IYALORISA E A FAMILIA ESPIRITUAL

POR ERICK WOLFF DE OSAALA



Constantemente ouço falarem sobre caráter, ética e responsabilidade espiritual por parte do sacerdotes da cultura Afro-religiosa, o que acho muito válido e necessário, quando sabemos da importância de cuidar da vida espiritual de alguém e, de poder ajudar a um individuo a encontrar bons caminhos a responsabilidade aumenta.

O sacerdote pode estudar muito, porem não existe uma escolha ou faculdade que lhe ensine os segredos do seu sacerdócio, por que lhe é ensinado pelos seus mais velhos ou por quem lhe iniciou, e não esquecendo as próprias divindades que orientam e dão apoio à sua jornada, por isso a importância de uma família e uma tradição.

São tantos os caminhos, as decepções e as alegrias, que fazem parte da vida de um sacerdote diante a sua jornada espiritual, que preencheriam uma enciclopédia para contar a sua historia, e bem feitorias.

Todos sabemos que muitos jovens são ignorados pela sua família, outros sofrem abandono sentimental, ou até mesmo sofrem violência passiva de falta de amor, quando não sofrem violências físicas ou piores. Assim também encontramos idosos que são mau tratados pela família, mesmo sendo  pessoas amáveis, responsáveis e compreensíveis, algumas pessoas que nascem em famílias desajustadas.

O sacerdote Afro-religioso com o tempo vai agregando experiencia e sabedoria, junto com o Àse que carrega do orisa, e se torna um verdadeiro pai ou mãe, como se adotassem seus iniciados como filhos,  estando ao seu lado quando precisam, fazendo o máximo que podem para dar bons conselhos, estarem presentes nas suas vidas quando necessário e claro que dar amor e confiança.

Não seria difícil entender o por que, chamam de Pai ou Mãe os sacerdotes os sacerdotes, basta olhar que na sua maioria os jovens ou idosos que procuram os templos, encontram não só caminhos espirituais, mas também acalanto no coração. Por isso, cabe ao sacerdote apaziguar a cabeça e o ori de cada iniciado seu, não esperando jamais reconhecimento ou agradecimentos, apenas fazendo o seu papel de amar incondicionalmente.

O sacerdote não precisa esbanjar riqueza ou luxuria para que seja um bom sacerdote, basta ele cumprir o seu papel de honestidade, bondade e responsabilidade com aquele individuo, não pensar que um filho é mais uma cabeça como gado, saber que este sacerdote estará ajudando e um dia poderá receber ou não em troca tudo o que fez em vida, sem esperar nada em troca.

Por isso uma familia espiritual é importante, talvez igual a sua família biológica, nesta família não existe pureza de uma raça por que agregara qualquer individuo de qualquer raça, nesta família agregara todos os gêneros sem discriminar os sexos, poderão fazer parte ricos ou pobres, basta ter bom coração e bons sentimentos. 

Boa noite à todos, assim é a nossa família. 



quarta-feira, 29 de novembro de 2017

PEQUENA HISTÓRIA DE OYA

Dra Paula Gomes
Postado em 29/11/2017
Revisado e atualizado em 13/06/2021

Sango (Alaafin Tella-Oko) em uma de suas jornadas queria caçar um búfalo que se transformou em uma mulher linda, em quem ele se apaixonou. Ele levou-a para casa e suas esposas deram-lhe o nome de Oya, porque não esperavam que seu marido voltasse de repente.

Oya era a amada esposa de Sango. Ela era a única esposa que o acompanhava em sua luta com Tapa (Nupe), sua casa materna.

Quando seu marido entrou pelo chão e desapareceu, ela agarrou coragem para seguir o exemplo de seu marido e escondeu-se entre um rebanho de ovelhas, ajudando-a a não ser encontrada e a desaparecer. Devido ao apoio dado a ela pelas ovelhas, seus seguidores estão proibidos de comer carne de ovelha (ovelha adulta).

Ninguém a via "órá" (não vi), que deu origem ao nome Ira (não vi). Ela entrou pelo chão em um lugar chamado Igbo-Oya em Ira. Este lugar foi fundado por um caçador de Oyo chamado Laage. Era a necessidade de se aproximar do bosque de Oya que o fez encontrar o local atual de Ira. Lugar nunca antes habitado.

Oya tornou-se um rio chamado ODO OYA ou River Niger, que é nomeado com seu nome. 

Assim como o trovão e o relâmpago são atribuídos de Sango, o tornado e trovões violentos são atribuídos a Oya.

Oya é também conhecida como Iya Sán (Mèsán), mãe de 9 filhos. Ela era conhecida por estar sempre cercada por crianças, mas ela nunca teve filhos biológicos. No entanto os nomes filhos de Oyá é o rio k se divide em 9 braços. (o grifo é nosso)

Duas espadas e os chifres de búfalo (Efòn) são as imagens representativas de Oya. Os seguidores se distinguem por um tipo particular de contas avermelhadas que sempre estão amarradas ao pescoço.

"Oya wole ni ile Ira
Sango wole ni Koso "
(Oya desapareceu na cidade de Ira 
Sango desapareceu em Koso)


Fonte oral do povo de Sango segundo alguns versos do eerindilogun.

Fonte oral do povo de Sango segundo alguns versos do eerindilogun.


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

KAMBINA - UMA ETIMOLOGIA POSSÍVEL.

Por Erick Wolff de Oxalá
26/11/2017

Uma possibilidade etimológica para Kambina, por minha conta e risco:

Kam = káà = àgbàlá = significando “lugar de”.
Bina = Bínín = Benin
(R.C. Abraham, Dictionary of Modern Yoruba, 1962)

Resultando possivelmente em: káà + bíní

Assim, possivelmente a Cambina seria uma corruptela referindo-se aos iorubas cultuadores de Orixás radicados no Benin (Dahomey), do outro lado da fronteira criada pelos europeus, onde a religião continua sendo iorubá, com características próprias, adaptada à situação social local, lembrando que Oyo, em seu apogeu, dominou o Dahomey  (Benin) por muitas décadas.

Outra possibilidade que não podemos desconsiderar é o grupo étnico Benin-Edo, na Nigéria, que cultuam algumas divindades como Exú, Ogum, Olokum, conforme encontramos no Batuque.


Observem as guias das cores onde informam os domínios dos Iorubá.
   


Sobre o termo "Kaa", apresento esta imagem tomada do livro 
"Yoruba Palaces, de G.J.A. Ojo, 1966".

Vemos uma tomada do palácio do Alaafin, onde cada local específico é chamado de "kaa".



Uma curiosidade é o iten 26, que mostra o kaa aganju, largo quintal local destinado ao povo, quando da aparição do Alaafin em público, talvez esta seja a origem de "Xango do Povo".









Ainda o antropólogo Norton Correa, no livro " O Batuque do Rio Grande do Sul", registrou a palavra Cambini ou Cambina, pois assim os iniciados deste segmento se referiam à sua tradição.


Na década de 80 tive o primeiro contato com a palavra Cambina ou Cambini, na época eu pertencia à família do baba Cleon de Oxalá, situado na Rua Mariano de Matos, Bairro Santa Tereza, Porto Alegre. 

Em 1985, dona Maria do Jobokum, filha de Oxala, 90 anos de idade aproximada, pronunciava Cambina ou Cambini (residia na casa de religião, o Reino de Oxalá, filha do Baba Cleon de Oxalá, situado na Rua Mariano de Matos, Bairro Santa Tereza, Porto Alegre).

Geni do Lode, filha do Cleon de Oxalá, também pronunciava Cambina ou Cambini. (informação coletada em setembro de 1999, no Reino de Oxalá, filha do Baba Cleon de Oxalá, supra citado).

Baba Luiz Carlos Dutra, Luiz de Oxum, falecido em 1995, na década de 80 também pronunciava Cambina. Era filho do Cleon de Oxalá (acima citado), 32 anos de feitura. Luiz foi diretor do Reino de Oxum, na época situado na rua Arnaldo Magnicaro, bairro Campo Grande, São Paulo.
Antigo endereço do Templo Reino de Oxum, 
Rua Arnaldo Magnicaro, Campo Grande, São Paulo.

Notem que a palavra Cambini ou Cambina era a forma pronunciada entre os iniciados desta tradição.

Em 1983, o autor Paulo Tadeu Barbosa Ferreira lançou o livro "Fundamentos Religiosos da Nação dos Orixás", que trouxe um grande prejuízo à raiz Cambina (Cambini), pois, sem nenhum embasamento ou estudo, apenas por similaridade, ligou a palavra Cambina, como era usual falar, para encaixar à Cabinda, província de Angola, criando toda a confusão entre os nomes, na tentativa de implantar a ideia completamente equivocada que a Cambina, um culto nagô para os Orixas, que ele passou a chamar de Cabinda, seria uma raiz bantu, o que não procede, cujo equívoco é facilmente percebido aos primeiros estudos sobre conceito de nação.

Assim, é imperioso que os mais novos estudem o conceito de nação afro-brasileira, para que não se deixem enganar por este livro.

TIKTOK ERICK WOLFF